Hoje lembrei-me de um tempo que tenho saudades. Minha vida de criança pobre numa vila do subúrbio de Belo Horizonte. Não que ela tenha sido diferente da de outros meninos e meninas daquela época, mas as pessoas que fechavam o circulo de conhecidos nos anos 70 e 80 são para mim raridades.
As rezas do mês de maio eram uma deliciosa diversão. Nos éramos levados por nossas mães, os homens raramente iam. Cada dia a imagem de nossa senhora Mão dos Homens era levada para uma casa diferente.
Rezava-se o terço e outras orações, depois havia coroação da imagem e por fim o leilão. Nos dias de sorte os donos da casa ofereciam uns quitutes para todos, mas era raro.
A imagem era levada de uma casa para outra em procissão. Por onde passava, os carros paravam e os bares tinham suas portas abaixadas. Era um tempo de muito respeito.
Todos os anos nós recebíamos a imagem em nossa casa. Mamãe fazia um altar todo enfeitado com flores, colocava as melhores toalhas e colchas rendadas e pedia prendas para o leilão em toda a vizinhança.
Quem fazia o leilão era o vendedor de pão. Naquele tempo não havia padaria perto de casa e todas as manhãs ele vinha sempre gritando:
- Padeiro! Olha o padeiro!!!
E todos corriam para comprar o pão.
Algumas vezes o pão vinha bem quentinho e eu nunca soube como o tal padeiro fazia para mantê-lo assim.
Na verdade, eu nunca soube se quer o nome daquele homem. Mas, sei que ele ainda é vivo. Sempre o vejo quando volto lá na vila. Já velho, ainda anda pelas ruas vendendo sorvete.
Gostava também de ir nas procissões do padre João, na igreja de nossa senhora do Perpétuo Socorro. Eram de percurso longo. Ele ia na frente e colocava a criançada entre as duas filas e de vez em quando olhava para trás para ver se todos estavam seguindo direitinho. Padre João era daqueles que ainda usava batina preta. Foi ele quem me batizou, a mim e a meus irmãos. Era calvo, usava óculos e tinha mania de ficar piscando. Lembro-me do dia em que ele vestiu uma batina nova para celebrar a missa. Na hora das leituras ele sentou-se na cadeira e ficou arrumando carinhosamente a roupa. Todos perceberam que era batina nova.
Ah! Sempre tinha banda de música também.
Teve um ano que mamãe vestiu a mim e a minha irmã de anjo. Ficamos todas empolgadas e eu até cantei o versinho para colocar a palma em nossa senhora. Nessa época eram mais animadas as celebrações nas igrejas, talvez porque quase todos eram católicos.
Obrigada pela visita!
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