Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas, MG.
O casal Ferreira, do final anos 70 ao início dos anos 80 do século passado, foram vitimas como tantos outros brasileiros da grave crise financeira na qual estava mergulhado o pais.
A senhora Ferreira sempre foi uma mulher muito esperta e logo começou a pensar num jeito de conseguir um pouco mais de dinheiro. Daí veio uma idéia que por muitos anos eles conseguiram botar em funcionamento: organizar caravanas em romaria para festas religiosas no interior.
Naquela época a maior parte dos moradores da vila eram católicos, quase ninguém possuía automóvel para viagens e grande parte gostava de dar um passeio longe do centro urbano. Talvez por isso tenha dado tão certo os negócios do casal Ferreira.
A senhora Ferreira era uma mulher muito bem relacionada na vizinhança, conhecida por todos por gostar de ajudar aos pobres e por ajudar a promover atividades religiosas na igreja. Então, era só começar a vender as passagens para a caravana e logo o grupo estaria formado.
Conta-se que a primeira dessas caravanas foi organizada para a festa do Senhor Bom Jesus de Matosinhos em Congonhas. Ônibus com lotação completa. O problema foi a falta de experiência do senhor Ferreira que na hora de alugar o veiculo buscou o mais barato porque queria ganhar um grande lucro na venda das passagens e ai ...
Na hora marcada para o grupo embarcar rumo a Congonhas, parou no lugar um ônibus bonito por fora e horrível por dentro. Desapontados ficaram todos que logo já perceberam a falta de conforto. Mas o senhor Ferreira ficou muito assustado e envergonhado com a situação.
Dizem que quando o motorista girou a chave, os bancos começaram a tremer e todos tiveram que tampar o nariz de tanta poeira que saia das laterais cheias de furos. Também há quem não se canse de rir do acontecido na volta a Belo Horizonte: dizem que um menino de pele bem escura que estava sentado na última poltrona encontrou um buraco nos fundos do ônibus e para lá logo entrou.
Ficando com medo, começou a gritar pedindo que acendessem a luz. Os outros meninos logo correram para ver o que estava acontecendo e quando olharam para dentro do buraco a única coisa que viram foi o branco dos olhos do menino.E apartir daí começaram a chamá-lo de Antonio Preto.
São muitos os casos que se contam sobre as viagens organizadas pelos Ferreira. É raro encontrar uma casa onde pelo menos uma pessoa nunca tenha viajado com eles. Se eles tivessem feito um diário, hoje em idade já avançada, poderiam publicar até um livro.
Outra viagem que deu o que comentar foi uma caravana dos Ferreira para Aparecida do Norte. Essa viagem foi muito esperada por todos porque iria passar pelo Rio de Janeiro. Um dia na praia, só quem é mineiro sabe o valor que tem. Não é por acaso que somos alvo de piadas quando o assunto é banho de mar. Sempre se tem uma engraçada história a ser contada.
Naquele tempo, as viagens eram demoradas porque parava-se muito. Não tinha perigo de assalto como hoje. Então a viagem prevista para sete horas de duração, deve ter demorado umas nove. Enfim, chegaram na paria de Copacabana. Os rapazes, que já viajaram de calção de banho por baixo das calças, desceram correndo do ônibus e foram dar um mergulho. Aí aconteceu a primeira do dia: alguns ficaram com medo de entrar na água que estava na maré alta e outros começaram a provar da água para ver se realmente era salgada.
Um guarda, percebendo a desorientação do grupo, ordenou ao motorista que estacionasse no Leblon. Para lá seguiram e alí deu-se um festival de acontecimentos. O senhor Jacinto e a dona Maria, portugueses e antigos comerciantes na vila, atravessaram a avenida e foram banhar as canelas nas águas do mar. Ficaram horas com as calças suspensas até o joelho e as canelas mergulhadas na água, enquanto observavam ao longe na esperança de ver algum navio igual ao que os trouxeram de Portugal na época da segunda guerra mundial.
Dona Rita não se cansava de pular as ondas quebradas. A filha do senhor Geraldo acendeu o cigarro do ladrão que tentava roubar sua máquina fotográfica. O rapaz que viajou de terno, com ele passou o dia no sol ardente.
Mas o fato mais engraçado foi o ocorrido com o Ari e o Baiano. Eles resolveram nadar e ficaram boa parte do dia dentro da água. De súbito uma onda gigante e os pegou despreparados dando-lhes um belo caldo. Estaria tudo normal se o Baiano não estivesse de óculos dentro do mar. Ele viu que esse havia sido levado pela onda e gritou pedindo ajuda ao Ari. Esse abriu a boca para responder ao companheiro e eis o que lhe acontece: sua dentadura saiu da boca! O saldo foi um óculos e uma dentadura perdidos no mar.
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