Ofício da Igreja Grande
Nossa Senhora da Conceição
Da Vila Real do Sabará,
Tem o seu trono na Igreja Grande,
Que, à beira-rio vai carregando
em seus ombros de taipa os séculos do ouro.
Suas naves abrem-se em arcadas,
Nichos escuros guardam seus Santos.
No chão de tábuas dormem os mortos,
Nas torres ficam os sinos roucos.
Nossa Senhora da Conceição
Da Vila Real do Sabará!
Mora a saudade na Igreja Grande
Toda escorrida de negrumes,
Mas à Senhora em seu altar
Eu vou pedir: - Rogai por nós ...
Os mortos não voltam mais e os vivos ocupados
Estão fundindo o ferro das montanhas,
E enferrujando as almas.
Outros venderam as suas alfaias,
Quase furtaram o Anjo Custódio;
Dizendo que era do Paraguai ...
Ficou sozinha Nossa Senhora,
Ficou sozinha no seu altar ...
Os sinos roucos estão calados,
Com mêdo de alguém que os vá tirar ...
Agora os vivos não vêm rezar,
Procuram imagens para furtar ...
Nossa Senhora da Conceição
Da Vila Real do Sabará,
Existe ainda quem te estremeça
De vivo amor do coração,
Na vila Real do Sabará.
( Augusto de Lima Júnior, 1966 )
Hoje, folheando o livro Noções de Cultura Mineira, de Wagner Ribeiro, publicado em 1966 pela editora FTD, que ganhei de mãos que confiam nos meus cuidados de preservação, deparei-me com o belo poema acima na página 231 e achei adequado transcrevê-lo aqui no blog.
Trata-se de uma reflexão sobre as notórias mudanças de comportamento já observadas naquela época para a relação homem-religião. O autor exalta o que representou o templo católico nos anos da riqueza aurífera e descreve os valores modificados, a ganância e depredação do patrimônio religioso.
Felizmente, após várias campanhas e investimentos em segurança a partir dos anos 90, a depredação material e o roubo vem diminuindo nas igrejas históricas mineiras.
A imagem de Nossa Senhora da Conceição é do século XVIII, tendo sido a igreja construída entre 1701 a 1710.